| Dia: 15/12/2025

Apresentação foi realizada pela Profa. Dra. Karoline Borges durante a 117ª Reunião Ordinária da CT-SAM

15 de dezembro de 2025

A apresentação da tese de doutorado “Desenvolvimento de Índice de Saúde Ambiental utilizando Regras Fuzzy”, da Profa. Dra. Karoline Borges, foi o tema central da 117ª Reunião Ordinária da Câmara Técnica de Saúde Ambiental (CT-SAM), realizada no dia 15 de dezembro, por videoconferência.

Durante a exposição, Karoline Borges iniciou a apresentação explicando o conceito de Lógica Fuzzy, um modelo de lógica matemática que classifica variáveis a partir de funções de pertinência, diferentemente da Lógica Booleana, que trabalha com valores binários de verdadeiro ou falso.

Na sequência, a pesquisadora contextualizou o problema ao destacar os principais desafios enfrentados pelos centros urbanos, como o rápido processo de urbanização, a ocupação desordenada do solo e a precariedade dos serviços de saneamento. Segundo ela, esses fatores contribuem para a poluição do solo, da água e do ar, além do aumento da incidência de doenças e da sobrecarga dos sistemas de saúde, impactando diretamente a qualidade de vida da população e, consequentemente, a saúde ambiental. Karoline também ressaltou a existência de desigualdades regionais, apontando que as regiões Norte e Nordeste apresentam condições mais precárias, especialmente no que se refere ao saneamento.

Diante desse cenário, a pesquisadora defendeu a aplicação da Lógica Fuzzy na criação do Índice Fuzzy de Saúde Ambiental (IFSA), com o objetivo de proporcionar uma avaliação mais precisa, abrangente e integrada das condições de saúde ambiental. O índice, segundo ela, também se apresenta como uma ferramenta estratégica para identificar áreas vulneráveis e subsidiar a formulação de políticas públicas ambientais.

Para a validação da hipótese proposta, o objetivo geral do estudo foi desenvolver o IFSA como instrumento de avaliação integrada dos aspectos relacionados ao saneamento e à saúde pública nas cidades brasileiras. Entre os objetivos específicos, destacam-se a seleção de indicadores relevantes, a construção de um modelo computacional baseado em Lógica Fuzzy, a aplicação do índice em cidades representativas e a análise do seu potencial como ferramenta de gestão ambiental urbana.

Como justificativa do trabalho, Karoline Borges apresentou a forte correlação entre a baixa cobertura de saneamento e as altas taxas de internações por doenças de veiculação hídrica, como dengue, hepatite e diarreia, que continuam afetando de forma significativa as populações urbanas mais vulneráveis — especialmente nas regiões Norte e Nordeste. Ela destacou ainda que diversos índices tradicionais não conseguem captar de maneira integrada a relação entre saneamento, saúde e meio ambiente. Nesse sentido, a literatura crítica sobre avaliação ambiental aponta a fragilidade de indicadores que não consideram incertezas e não integram múltiplas variáveis.. 

Ainda de acordo com a pesquisadora, o Índice Fuzzy se configura como um instrumento inovador para a avaliação da saúde ambiental, por favorecer a abordagem integrada recomendada pela literatura e preencher lacunas existentes nas ferramentas de diagnóstico ambiental urbano. O IFSA, segundo ela, fornece subsídios técnicos para que gestores públicos atuem na redução das desigualdades socioambientais e possui potencial de aplicação em diferentes escalas territoriais, favorecendo ações intersetoriais.

O trabalho foi desenvolvido em três frentes principais: pesquisa bibliográfica e documental; elaboração do Modelo Fuzzy de Saúde Ambiental; e aplicação do modelo às capitais brasileiras. Para o desenvolvimento do índice, foi utilizado o software Matlab. Após a calibração e o ajuste dos parâmetros, o modelo foi aplicado em 23 cidades brasileiras, distribuídas pelas cinco regiões do país, com o objetivo de avaliar a saúde ambiental nas capitais, identificar áreas vulneráveis e oferecer subsídios à formulação de políticas públicas e estratégias de intervenção.

A partir da calibração e validação do modelo, foi identificado que os municípios com IFSA classificado como crítico coincidem com índices igualmente críticos de saúde ambiental e saneamento. Os piores indicadores concentram-se na região Norte, enquanto a região Nordeste apresentou resultados heterogêneos. Já as regiões Sudeste e Sul obtiveram bons resultados no índice de saneamento, mas desempenho inferior no índice de saúde. Na região Centro-Oeste, o desempenho foi considerado moderado. Esses resultados reforçam que o IFSA reflete de forma consistente as realidades locais e evidencia a necessidade de políticas públicas integradas e territorializadas.

Os resultados também indicam uma melhoria dos índices Fuzzy de saúde ambiental entre 2016 e 2022, atribuída principalmente aos investimentos em infraestrutura sanitária, com destaque para a ampliação da coleta de esgoto. A capital paulista figura entre as cidades mais bem avaliadas. No índice de saneamento, houve avanços entre 2019 e 2022, também relacionados aos investimentos em esgotamento sanitário. O índice de saúde apresentou melhora com a redução da incidência de doenças; no entanto, cidades das regiões Sul e Sudeste ainda foram classificadas entre “ruim” e “moderado”, em razão da elevada incidência de doenças transmitidas por vetores, como dengue, além de doenças respiratórias. A análise referente a 2022 também evidenciou que, mesmo em municípios com bom saneamento, a alta incidência de doenças pode comprometer a classificação final do índice.

Com base nos resultados regionais, foram propostas recomendações específicas para os municípios, conforme suas classificações. Municípios com desempenho crítico ou ruim podem, por exemplo, mapear áreas sem cobertura de saneamento, investir em infraestrutura básica e saúde preventiva, eliminar lixões, intensificar o combate a vetores e criar comitês e diagnósticos intersetoriais. Já os municípios com desempenho moderado podem expandir redes, manter a infraestrutura existente, integrar a vigilância epidemiológica e ambiental, promover planos participativos e fortalecer parcerias com centros de pesquisa. Por sua vez, municípios com bom desempenho podem focar no monitoramento contínuo de indicadores, na busca por soluções inovadoras, na consolidação de políticas sustentáveis de longo prazo e na disseminação de boas práticas.

Entre as principais vantagens do modelo, foram elencadas a integração de dados quantitativos com maior realismo e flexibilidade, a capacidade de captar a interdependência entre saúde e saneamento, a sensibilidade às variações locais — permitindo diagnósticos mais fiéis — e a possibilidade de simulação de cenários e apoio à tomada de decisões prognósticas. Além disso, o modelo pode ser aplicado em qualquer cidade ou município. Como limitações, foram apontadas a dependência de dados secundários e o uso de um software pago, o Matlab.

Como considerações finais, a tese comprovou a validação da hipótese proposta, demonstrando que o IFSA é eficaz para avaliar a saúde ambiental urbana. A validação ocorreu a partir da seleção de indicadores relevantes, da construção do modelo e da comprovação do índice como instrumento de gestão urbana. Entre as aplicações futuras, destacam-se a expansão das modelagens com dados de qualidade do solo, do ar e da água; a inclusão de informações sobre eficiência do tratamento de esgoto e vulnerabilidade climática; a aplicação do índice em contextos urbanos e rurais distintos; a incorporação de variáveis socioeconômicas; a participação de especialistas e consultores ad hoc na modelagem Fuzzy; o apoio a políticas públicas integradas; o fortalecimento do controle social e da transparência; e o aumento da capacidade de resposta frente às desigualdades regionais.

A próxima reunião ordinária da CT-SAM será realizada no dia 9 de fevereiro de 2026, às 9h, por videoconferência. 

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