Encontro presencial na Embrapa Meio Ambiente também debateu mortandade de peixes no Rio Piracicaba
04 de setembro de 2024
A situação da estiagem nas Bacias PCJ (Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí) foi um dos principais assuntos da 258ª Reunião Ordinária da Câmara Técnica de Monitoramento Hidrológico (CT-MH), realizada nesta quarta-feira, dia 4 de setembro, no auditório da Embrapa Meio Ambiente, em Jaguariúna (SP).
“A estiagem está se mostrando severa. Nós estamos atravessando. O quanto vai durar, é difícil assinar embaixo, mas eu acredito que nós estamos trabalhando com parcimônia, fazendo as manobras adequadas, necessárias para manter o sustento e também manter uma reserva no nosso Sistema Cantareira”, comentou o coordenador-adjunto da CT-MH, Paulo Tinel.
No período seco, entre junho e novembro, os Comitês PCJ, por meio da CT-MH, é que são responsáveis pelas descargas do Canteira para as Bacias PCJ. O sistema abastece diretamente cerca de 3,9 milhões de pessoas em 19 municípios. Na terça-feira (03.09.2024), o armazenamento do Cantareira era de 56,7% do volume útil total. Há um ano, este percentual era de 78.3. As Bacias PCJ tem direito a 158 bilhões de litros de água nesse período de seis meses. Até agosto, foi utilizada metade desse volume. Em agosto deste ano, o total utilizado foi 7% maior que o mesmo mês de 2023.
Na opinião de Tinel, a Câmara Técnica terá uma melhor noção quanto a estiagem de 2025 na próxima reunião, 3 de outubro, por videoconferência. “O Alexandre (Vilella, coordenador da CT-MH) nos disse hoje que a reunião de outubro vai ser um balizador do que teremos. Porque se você tiver, a partir de outubro, a precipitação das chuvas, eu acredito que vai ser um balizador. Eu acho que ameniza o problema. Mas, se você tiver uma postergação do período chuvoso, 2025 entra no estado de atenção”, comentou o coordenador-adjunto.
Em apresentação sobre chuvas/vazões em agosto/2024 e perspectivas para os próximos meses, Karoline Dantas, da Sala de Situação PCJ, informou que dos 31 dias de agosto, 27 dias não tiveram registro de chuvas. Segundo ela, o cenário geral nas Bacias PCJ, é de seca fraca, mas em alguns municípios a seca moderada, avançando para seca grave, conforme classificação do Monitor de Secas. Na reunião, o coordenador do GT-Previsão do Tempo, Jorge Mercanti, falou sobre as previsões meteorológicas e climáticas para a região e também país e mundo.
Outro assunto discutido no encontro foi sobre uma das responsabilidades que os Comitês assumiu em relação à mortandade de peixes ocorrida em julho no Rio Piracicaba e na APA Tanquã: a ampliação da rede de monitoramento da qualidade da água, com a instalação de novas estações automáticas no trecho de 70 quilômetros entre Americana (SP) e o Tanquã. A previsão é que isso aconteça até o final de 2025. A ação será com recursos da cobrança pelo uso da água (Cobrança PCJ Paulista/Fehidro) e em parceria com a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo).
“As estações preveem acompanhar a qualidade da água do rio, principalmente a questão do oxigênio dissolvido, permitindo uma rápida ação dos órgãos fiscalizadores, no caso a CETESB, e também do DAEE quando a questão for quantidade. São essenciais essas estações. Acredito que seja o primeiro rio do Brasil tão monitorado quanto a nossa necessidade em função da escassez”, ressaltou Tinel.
Houve ainda apresentações sobre a situação dos mananciais, Sistema Cantareira, informações dos usuários e das condições hidrometeorológicas, assim como relato de ocorrências registradas durante o mês de agosto de 2024. Um dos relatos foi do SAAE de Atibaia, que constatou espuma branca em um trecho da cabeceira do Rio Atibaia no dia 16 de agosto, em uma ocorrência de curta duração.
Na deliberação sobre as vazões a serem descarregadas do Sistema Cantareira às Bacias PCJ em atendimento às resoluções conjuntas ANA/DAEE nº 925 e 926/2017, os membros da CT-MH decidiram manter os atuais volumes de 5 metros cúbicos/segundo no Rio Cachoeira; 4,5 m3/s no Atibainha; e 1,5 m3/s na Represa Jaguari/Jacareí.
No encontro, representantes da SIMEPAR (Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná) fizeram duas apresentações. A primeira, do coordenador de operação, Marco Josevicius, foi sobre um vídeo da plataforma de visualização de eventos de focos de calor, em 23 de agosto, com propagação de queimadas principalmente na região de Ribeirão Preto. “É um evento de muito impacto que eu nunca tinha visto. Não é diretamente relacionado com a água, mas deve ter havido problemas quanto à qualidade da água” comentou Josevicius.
O pesquisador Danilo Mildemberger apresentou as campanhas de monitoramento hidrométrico nas Bacias dos Rios Jaguari e Atibaia. Os objetivos da atividade contratada pela Agência PCJ e deliberada pelos Comitês PCJ, são o reconhecimento detalhado dos principais corpos hídricos que compõem o sistema; identificação de áreas com regularizações que podem impactar nos resultados do modelo; medições de descargas liquidas para comparação com os dados telemétricos; verificação das descargas liberadas pelos reservatórios; identificação de possíveis retiradas não consideradas pelo modelo; e geração de seções topobatimétricas em pontos específicos dos corpos hídricos. Os principais resultados e conclusões foram: divergência entre os volumes de água descarregados pelos reservatórios e os volumes medidos (Bacia do Jaguari); boa correlação entre os dados medidos e calculados pelas estações telemétricas; identificação de retiradas de água não contabilizadas no modelo; e identificação de áreas com regularização (barramentos) não consideradas pelo modelo.
Na abertura da reunião, o pesquisador-chefe da Embrapa Meio Ambiente, Robson Barizon, deu as boas-vindas e apresentou a instituição aos participantes. Além de Vilella e Tinel, a coordenação da CT-MH é formada também por Luís Filipe Rodrigues, da Assemae (Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento).