Em alguns lugares, escassez; noutros, excesso. Em ambos, desastres. As projeções para o futuro não são boas, e acendem vários sinais de alerta que apontam: se não cuidarmos, haverá falta de fontes de água doce para atender de forma satisfatória à população do planeta. De toda água disponível, cerca de apenas 2,5% está disponível para consumo (água doce), e a maior parte dela está retida nas geleiras das calotas polares.
A demanda mundial pela água deverá aumentar 40% até 2030 e 55% até 2050, ano no qual se estima que mais de 40% da população mundial viverá em áreas de grave estresse hídrico. Infelizmente, ainda que inserido nos principais eventos e círculos sobre o futuro sustentável do planeta, o tema “água” somente ganha a proporção devida em momentos específicos, como o Dia Mundial da Água ou quando uma grave crise, seca ou cheia, ocorre. Nesses momentos, o tema surge com toda a força, ocupando editoriais nos meios de comunicação, pautas emotivas na TV e palestras.
Contudo, se a necessidade de preservarmos nossas fontes de recursos hídricos não se tornar uma pauta permanente de primeira urgência, inclusive nos planos de governo dos países do globo, as projeções nos indicam que nossos dias futuros não serão dos melhores.
Nos Comitês PCJ e na Agência das Bacias PCJ, convivemos constantemente com a temática “água”. E não somente no que se refere à discussão de sua importância e da escala do desastre que seria ficar sem esse bem essencial à vida; unindo teoria e a prática. Esforçamo-nos diariamente para fomentar boas ações no que tange à preservação dos mananciais e, também, para estimular e viabilizar projetos de diferentes tamanhos e abrangências para otimizar o tratamento de água e do esgoto, o saneamento e uso/consumo da água nos meios rural e urbano. Para nós, água é um assunto a ser trabalhado com uma visão de 360º, isto é, envolvendo toda e qualquer relação entre o homem (individualmente ou como um ser social), os mananciais e a infraestrutura para seu uso racional.
As sementes de um trabalho sério plantadas frutificam e se diversificam; nossas ações têm beneficiado, direta e indiretamente, os mais de 5,7 milhões de habitantes que vivem nos 76 municípios na região dos Rios Piracicaba, Jundiaí e Capivari, a qual, vale constar, concentra zonas urbanas das mais densas e industrializadas do Brasil.
Há muitos anos sentamos e discutimos projetos. Órgãos e entidades dos governos federal e estadual, prefeituras e a sociedade civil trabalhando em prol do encontro de soluções para não somente expandir o abastecimento hídrico, mas para melhorar a qualidade do uso da água que consumimos diariamente. Nesse ínterim, fizemos muito, mas sabemos que ainda há mais a ser feito. Segundo a ANA (Agência Nacional de Águas), no Brasil, o consumo teve alta de 80% nas últimas duas décadas. É preciso estar preparado e, para isso, é necessário que as pessoas se conscientizem cada vez mais sobre a preservação dos mananciais. Há, ainda, o impacto vital da relação entre a água e a produção rural.
Por isso, não podemos abaixar a guarda; pelo contrário, a garantia da segurança hídrica, frente à expansão urbana e industrial, juntamente com a modernização do campo, exigem atenção e medidas efetivas para que o equilíbrio ambiental seja preservado – e para que aquilo que foi prejudicado, seja restaurado.
Sonho? Não, temos certeza de que nosso trabalho está longe de ser um sonho, mas repousa na realidade! Prova disso é o reenquadramento do Rio Jundiaí, cuja classe passou de 4 (o pior nível, proibido para uso e consumo humano) para 3 tornando-o manancial. Trata-se de uma grande conquista. Não é tudo, porque ainda há muito a ser feito para recuperar totalmente esse valioso rio, que tanto contribuiu e contribui para a história de nossa região.
Os Comitês PCJ e a Agência das Bacias PCJ também tem trabalhado para minimizar os efeitos do desmatamento, pois a floresta permite a infiltração de até 80% da água da chuva e presta um serviço ambiental, retendo a água no solo – essa água subterrânea é que alimenta o rio na seca. As matas também possuem papel fundamental para reduzir o impacto das enchentes.
Todos os trabalhos desenvolvidos fazem parte de um ciclo único que, se bem tratado, assegurará bem-estar às gerações de um futuro próximo. Muitos são os desafios, porém, grande continua a ser nossa vontade de trabalhar.
O importante é que levemos em nossa bandeira e em nossas ações, o ideal máximo de preservar a vida e de boa qualidade; e isso passa, obrigatoriamente, por cuidarmos da nossa água.
Luiz Roberto Moretti
Secretário executivo dos Comitês PCJ
Barjas Negri
Prefeito de Piracicaba
Presidente do CBH-PCJ e PCJ FEDERAL