Mortes ocorridas em 2020, foi um dos temas tratados durante a 232ª Reunião Ordinária da Câmara Técnica de Monitoramento Hidrológico
03 de agosto de 2022
Na manhã de quarta-feira, 03 de agosto de 2022, foi realizada a 232ª Reunião Ordinária da Câmara Técnica de Monitoramento Hidrológico dos Comitês PCJ. Por meio de videoconferência, os membros e ouvintes debateram os temas previstos na pauta. Entre as questões discutidas, estiveram a situação dos mananciais na região das Bacias PCJ, e um boletim de monitoramento da qualidade nas bacias que abordou a mortandade de peixes na bacia do Rio Piracicaba em 2020, ocorrida, em suma, pela elevada concentração e poluentes.
Ainda no início da reunião, ocupou a palavra Estanislau Steck, prefeito de Louveira, que abordou a questão da estiagem e as dificuldades enfrentadas pelo município. “Estamos aqui atentos, cientes da importância de agirmos em sinergia para enfrentamento deste momento”, disse.
Alexandre Vilela (CT-MH), apresentou os dados de vazão das unidades de medição dos rios monitorados destacando que as Bacias PCJ, por meio dos Comitês PCJ são um dos poucos Comitês de Bacias, se não o único do planeta que faz a medição utilizando casas decimais, algo tido como minucioso e bastante preciso. De acordo com Ivan Canale (Semae/Piracicaba), de forma geral, a condição de captação no rio Piracicaba encontra-se com elevada concentração de amônia. “Isso acaba dificultando os trabalhos, aumentando o consumo de cloro, porém, fenômenos como este são típicos para este período do ano”, afirmou. Por sua vez, Sinezio Toledo (Sanasa/Campinas), comentou sobre a situação da ETA/Capivari. “Desde julho estamos trabalhando novamente com a ETA Capivari, que foi reativada após um longo período parada. Houve um forte odor químico semelhante a sabão em pó, o que afetava os trabalhos, agora, porém, a condição foi normalizada, observando apenas a elevada concentração de amônia, conforme relatado pelos colegas de Piracicaba”, disse.
De acordo com Alexandre Vilella, o Sistema Cantareira em 02 de agosto de 2022 apresentava os seguintes indicadores: Q NAT em 11,24 m³/s; o Qps: 7,52 m³/s. O índice de reserva do SC é de Alerta de 36,1%. O Sistema integrado da Região Metropolitana de São Paulo está, em 02 de agosto de 2022, em 49,2%, sendo que há exatamente um ano (02 de agosto de 2021), estava em 47,3%.
Conforme a Sala de Situação PCJ, o relatório Síntese dos Dados Hidrométricos da Bacia do Rio Piracicaba em 02 de agosto de 2022, registrava a vazão média utilizada, de 01 de junho a 02 de agosto de 10,8 m³/s. O volume utilizado no período foi de 58,78 hm³, o que corresponde a 37,18% da cota; sendo o volume disponível no período de 99,32 hm³, correspondente a 62,82% da cota. Restam 120 dias restantes até 30 de novembro, quando encerra o período seco mais crítico, sendo que o status atual do Sistema Cantareira é de 36,1%.
Segundo o DAEE, com base nos dados da Sala de Situação PCJ, os Dados Pluviométricos ao longo do mês de julho nas estações das Bacias PCJ registraram chuvas abaixo do padrão anual. Quanto ao sistema Cantareira, nas medias diárias, no Rio Atibaia em Atibaia tiveram indicadores inferior às medias. O Rio Atibaia em Valinhos ficou ainda mais abaixo. O rio Jaguari em Buenopolis teve comportamento estável até o meio de julho, depois sofreu uma queda abrupta, passando por um acréscimo considerável nos últimos dias do mês.
Jorge Mercanti (GT-Previsão Hidrometeorológicas) iniciou sua fala destacando as condições meteorológicas. “Temos, na América do Sul, especificamente no Uruguai, uma movimentação de chuvas que poderão chegar ao Rio Grande do Sul em breve. Há um cavado que possa vir a ser uma onda fria, que dará entrada no estado do Paraná. Temos a possibilidade dessa frente fria muito leve em nossa região, vindo a se converter em chuvas a partir do dia 8 ou 9 de agosto”, disse Mercanti.
Logo depois, ocorreu, por convocação de Alexandre Vilella, a deliberação sobre as vazões a serem descarregadas do Sistema Cantareira para as Bacias PCJ ficando estabelecido os seguintes volumes: Cachoeira com a manutenção dos atuais 6 m³/s; Atibainha permanecendo com os 5 m³/s; e Jaguari/Jacareí sendo mantido nos atuais 1,25 m³/s.
MORTANTADE – Durante a reunião ocorreu a apresentação da CETESB sobre o boletim de monitoramento da qualidade nas Bacia PCJ e relatório referente a mortandade de peixes na Bacia do rio Piracicaba – levantamento das fontes de poluição, avaliação hidrológica e qualidade da água no ano de 2020, desenvolvido ao longo de 2021. A apresentação foi feita por Fabio Reichfeld que iniciou sua fala esclarecendo os objetivos do trabalho: “buscamos descrever as ocorrências de mortandades de peixes no trecho inferior da bacia do rio Piracicaba, a jusante da confluência com o rio Corumbataí; correlacionar estes eventos com as condições hidrológicas e de qualidade da água da área de abrangência do estudo; apresentar um levantamento da situação do saneamento dos municípios e das principais fontes pontuais e não pontuais de emissão de carga orgânica remanescente (com base nos dados de 2020); apresentar uma estimativa das cargas orgânicas pontuais e difusas para cada um dos municípios; e apresentar propostas de medidas preventivas e corretivas para a melhora da qualidade da água na área de abrangência do estudo”.
Após apresentação dos dados coletados, Reichfeld partiu para as conclusões, que segundo a Cetesb, foram estabelecidos as seguintes noções: no geral, os municípios dentro da área de abrangência do estudo apresentam Índices de coleta e tratamento de esgoto satisfatórios; municípios com tratamento nulo: Cordeirópolis, Iracemápolis e Rio das Pedras; municípios que apresentaram baixos índices de tratamento de esgotos e de eficiência de operação das ETES: São Pedro, Sumaré, Americana e Limeira. As estimativas para o total de cargas orgânicas remanescentes geradas pelos municípios da área de abrangência do estudo revelaram um lançamento de cerca de 45t/dia de DBO nos corpos d’água que compõem a rede de drenagem; maiores contribuições de cargas orgânicas de origem pontual: Americana e Limeira ( cerca de 70 % do total lançado pelas ETEs); maiores contribuições de cargas não pontuais (difusas) : Americana e Sumaré (cerca de 63 % da carga orgânica aportada); para as cargas orgânicas pontuais de origem industrial e comercial, principal contribuição de carga orgânica é oriunda dos efluentes tratados da empresa Raizen Costa Pinto (cerca de 39% do total lançado dessas fontes no rio Corumbataí).
Os fatores principais responsáveis pelos episódios de mortandade de peixes registrados no rio Piracicaba ao longo da última década são: redução da vazão do rio Piracicaba – nos anos de 2014, 2019 e 2020, foram registradas as menores vazões na calha do rio, em função do forte déficit pluviométrico, que acarretou uma piora nas condições de qualidade da água, com maior concentração de poluentes; aportes instantâneos de matéria orgânica de origem doméstica e industrial: a ocorrência de episódios de chuvas intensas, principalmente após longos períodos de estiagem, carreia e revolve, em curto espaço de tempo, grandes quantidades de matéria orgânica depositada nos leitos dos afluentes, causando déficits de oxigênio dissolvido; episódios de floração de algas/cianobactérias: nos trechos do rio Piracicaba coincidentes com as captações dos municípios de Americana e Piracicaba, existem pequenos represamentos, que alteram o regime de vazão do rio de lótico para lêntico, acarretando as florações. Tais episódios são registrados com maior frequência nos períodos de estresse hídrico, conforme constatado entre 2014 e 2015 e depois no final de 2019 e em 2020.
Diante do exposto, foram apresentadas as seguintes propostas a fim de coibir novos episódios de mortandade: gestão compartilhada do problema das mortandades e sugere-se uma discussão no Comitê de Bacias PCJ com vistas a avaliar a influência das captações e das regras operativas do reservatório de Salto Grande na vazão do trecho inferior do rio Piracicaba; Sugere-se ainda no âmbito dos Comitês PCJ que estude a possibilidade de implantação de tecnologias no próprio corpo hídrico que sejam capazes de suplementar os níveis de OD em trechos críticos, quando existe maior probabilidade de ocorrência de eventos de mortandades de peixes.
A próxima reunião Da CT-MH (233º encontro), ocorrerá em 1º de setembro de 2022, e também será realizada por meio de videoconferência.